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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Os bonecos de barro POR CLARICE LISPECTOR


Para todos as artistas que me seguem, achei esse texto de Clarice Lispector bem apropriado para uma boa reflexão::..


Os bonecos de barroPOR CLARICE LISPECTOR

O que ela amava acima de tudo era fazer bonecos de barro — o que ninguém lhe ensinara. — Trabalhava numa pequena calçada de cimento em sombra, junto à última janela do porão. Quando queria com muita força ia pela estrada até ao rio. Numa de suas margens, escalável embora escorregadia, achava-se o melhor barro que alguém poderia desejar: branco, maleável, pastoso: frio. Só em pegá-lo, em sentir sua frescura delicada, alegrezinha e cega, aqueles pedaços timidamente vivos, o coração da pessoa se enternecia úmido quase ridículo. Virgínia cavava com os dedos aquela terra pálida e lavada — na lata presa à cintura iam se reunindo os trechos amorfos. O rio em pequenos gestos molhava-lhe os pés descalços e ela mexia os dedos úmidos com excitação e clareza. As mãos livres, ela então cuidadosamente galgava a margem até a extensão plana . No pequeno pátio de cimento depunha a sua riqueza. Misturava o barro à água, as pálpebras frementes de atenção — concentrada, o corpo à escuta, ela podia obter uma porção exata de barro e de água numa sabedoria que nascia naquele mesmo instante, fresca e progressivamente criada. Conseguia uma matéria clara. e tenra de onde se poderia modelar um mundo.
Como, como explicar o milagre... Ela se amedrontava pensativa. Nada dizia, não se movia, mas interiormente sem nenhuma palavra repetia: Eu não sou nada, não tenho orgulho, tudo me pode acontecer; se quiser, me impedirá de fazer a massa de barro; se quiser, pode me pisar, me estragar tudo; eu sei que não sou nada. Era menos que uma visão, era uma sensação no corpo, um pensamento assustado sobre o que lhe permita conseguir tanto barro e água e diante de quem ela devia humilhar-se com seriedade . Ela lhe agradecia com uma alegria difícil, frágil e tensa; sentia em alguma coisa como o que não se vê de olhos fechados. Mas o que não se vê de olhos fechados tem uma existência e uma força, como o escuro, como a ausência — compreendia-se ela, assentindo feroz e muda com a cabeça. Mas nada sabia de si, passaria inocente e distraída pela sua realidade sem reconhecê-la; como uma criança, como uma pessoa.

Depois de obtida a matéria, numa queda de cansaço ela poderia perder a vontade de fazer bonecos. Então ia vivendo para a frente como uma menina.

Um dia, porém, sentia seu corpo aberto e fino, e no fundo uma serenidade que não se podia conter, ora se desconhecendo, ora respirando trêmula de alegria, as coisas incompletas. Ela mesma insone como luz — esgazeada, fugaz, vazia, mas no íntimo um ardor que era vontade de guiar-se a uma só coisa, um interesse que fazia o coração acelerar-se sem ritmo... de súbito, como era vago viver. Tudo isso também poderia passar, a noite caindo repentinamente, a escuridão fresca sobre o dia morno.

Mas às vezes ela se lembrava do barro molhado, corria alegre e assustada para o pátio: mergulhava os dedos naquela mistura fria, muda e constante como uma espera; amassava, amassava, aos poucas ia extraindo formas. Fazia crianças, cavalos, uma mãe com um filho, uma mãe sozinha, uma menina fazendo coisas de barro, um menino descansando, uma menina contente, uma menina vendo se ia chover, uma flor, um cometa de cauda salpicada de areia lavada e faiscante, uma flor murcha com sol por cima, o cemitério do Brejo Alto, uma moça olhando... Muito mais, muito mais. Pequenas formas que nada significavam, mas que eram na realidade misteriosas e calmas. Às vezes alta como uma árvore alta, mas não eram árvores, m:to eram nada...Ás vezes um pequeno objeto de forma quase estrelada, mas sério e cansado como uma pessoa. Um trabalho que jamais acabaria, isso era o que de mais bonito e atento ela já soubera. Pois se ela podia fazer o que existia e o que não existia!...

Depois de prontos, os bonecos eram colocados ao sol. Ninguém lhe ensinara, mas ela os depositava nas manchas de sol no chão, manchas sem vento nem ardor. O barro secava mansamente, conservava o tom claro, não enrugava, não rachava. mesmo quando seco parecia delicado, evanescente e úmido. E ela própria podia confundi-lo com o barro pastoso. As figurinhas assim, pareciam rápidas, quase como se fossem se desmanchar — e isso era como se elas fossem se movimentar. Olhava para o boneco imóvel e mudo. Por amor ou apenas prosseguindo o trabalho ela fechava os olhos e se concentrava numa força viva e luminosa, da qualidade do perigo e da esperança, numa força de sede que lhe percorria o corpo celeremente com um impulso que se destinava à figura. Quando, enfim, se abandonava, seu fresco e cansado bem-estar vinha de que ela podia enviar, embora não soubesse o que, talvez. Sim ela às vezes possuía um gosto dentro do corpo, um gosto alto e angustiante que tremia entre a força e o cansaço — era um pensamento como sons ouvidos, uma flor no coração: Antes que ele se dissolvesse, maciamente rápido, no seu ar interior, para sempre fugitivo, ela tocava com os dedos num objeto, entregando-o. E, quando queria dizer algo que vinha fino, obscuro e liso — e isso poderia ser perigoso — ela encostava um dedo apenas, um dedo pálido, polido e transparente, um dedo trêmulo de direção. No mais agudo e doído do seu sentimento ela pensava: Sou feliz. Na verdade, ela o era nesse instante, e se em vez de pensar: Sou feliz, procurava o futuro, era porque, obscuramente, escolhia um movimento para a frente que servisse de forma à sua sensação.


Assim juntara uma procissão de coisas miúdas. Quedavam-se quase despercebidas no seu quarto. Eram bonecos magrinhos e altos como ela mesma. Minuciosos, ligeiramente desproporcionados, alegres, um pouco perplexos — às vezes, subitamente, pareciam um homem coxo rindo. Mesmo suas figurinhas mais suaves tinham uma imobilidade atenta como a de um santo. E pareciam inclinar-se, para quem as olhava, também como os santos. Virgínia podia fitá-las uma manhã inteira, que seu amor e sua surpresa não diminuiriam.
— Bonito... bonito como uma coisinha molhada, dizia ela excedendo-se num ímpeto imperceptível e doce.

Ela observava: mesmo bem acabados, eles eram toscos como se pudessem ainda ser trabalhados. Mas vagamente, ela pensava que nem ela nem ninguém poderia tentar aperfeiçoá-los sem destruir sua linha de nascimento . Era como se eles só pudessem se aperfeiçoar por si mesmos, se isso fosse possível.

As dificuldades surgiam como uma vida que vai crescendo. Seus bonecos, pelo efeito do barro claro, eram pálidos. Se ela queria sombreá-los não o conseguia com o auxílio da cor, e por força dessa deficiência aprendeu a lhes dar sombra ainda por meio de forma. Depois inventou uma liberdade: com uma folhinha seca sob um fino traço de barro conseguia um vago colorido, triste assustada quase inteiramente morto. Misturando barro à terra, obtinha ainda outro material menos plástico, porém mais severo e solene. MAS COMO FAZER O CÉU? Nem começar podia! Não queria nuvens — o que poderia obter, pelo menos grosseiramente — mas o céu, o céu mesmo, com sua existência, cor solta, ausência de cor. Ela descobriu que precisava usar uma matéria mais leve que não pudesse sequer ser apalpada, sentida, talvez apenas vista, quem sabe! Compreendeu que isso ela conseguiria com tintas.

E às vezes numa queda, como se tudo se purificasse, ela se contentava em fazer uma superfície lisa, serena, unida, numa simplicidade fina e tranqüila.

O texto acima foi publicado na revista "Nordeste" (Ano XIII, nº 2, julho de 1960, Recife-PE) e consta do romance "O Lustre", publicado em 1946. Foi extraído de reprodução feita pela Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, produção editorial de Giordanus - São Paulo, maio de 2003, sendo mais uma colaboração de João Antônio Bührer e seus "Arquivos Implacáveis".

Não há identificação do autor das ilustrações, que serão talvez de Ladjane que, com Esmaragdo Marroquim, assume a direção da revista. Declinam-se também M.Bandeira, José Cláudio e Karl Plattner como ilustradores do exemplar utilizado.





Beijos meus cheios de luz, paz, amor, fé e esperança!











sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Como a caminhar expôs S. Francisco a Frei Leão as coisas que constituem a perfeita alegria





São Francisco de Assis rogai por nós!


Como a caminhar expôs S. Francisco a Frei Leão 
as coisas que constituem a perfeita alegria


Vindo uma vez São Francisco da cidade de Perusia para Santa Maria dos Anjos com Frei Leão em tempo de inverno, e como o grandíssimo frio fortemente o atormentasse, chamou Frei Leão, o qual ia mais à frente, e disse assim: "Irmão Leão, ainda que o frade menor desse na terra inteira grande exemplo de santidade e de boa edificação, escreve e nota diligentemente que nisso não está a perfeita alegria".

E andando um pouco mais, chama pela segunda vez: "`Santo irmão Leão, ainda que o frade menor desse vista aos cegos, curasse os paralíticos, expulsasse os demônios, fizesse surdos ouvirem e andarem coxos, falarem mudos, e mais ainda, ressuscitasse mortos de quatro dias, escreve que nisso não está a perfeita alegria". E andando um pouco, São Francisco gritou com força: "Ó irmão Leão, se o frade menor soubesse todas as línguas e todas as ciências e todas as escrituras e se soubesse profetizar e revelar não só as coisas futuras, mas até mesmo os segredos das consciências e dos espíritos, escreve que não está nisso a perfeita alegria".

Andando um pouco além, São Francisco chama ainda com força: "Õ irmão Leão, ovelhinha de Deus, ainda que o frade menor falasse com língua de anjo e soubesse o curso das estrelas e as virtudes das ervas; e lhe fossem revelados todos os tesouros da terra e conhecesse as virtudes dos pássaros e dos peixes e de todos os animais e dos homens e das árvores e das pedras e das raízes e das águas, escreve que não está nisso a perfeita alegria".

E caminhando um pouco, São Francisco chamou em alta voz: "Ô irmão Leão, ainda que o frade menor soubesse pregar tão bem que convertesse todos os infiéis à fé cristã, escreve que não está nisso a perfeita alegria".

E durando este modo de falar pelo espaço de duas milhas, Frei Leão, com grande admiração, perguntou-lhe e disse: "Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria". E São Francisco assim lhe respondeu: "Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento' e o porteiro chegar irritado e disser: 'Quem são vocês?'; e nós dissermos: "'Somos dois dos vossos irmãos', e ele disser: 'Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui'; e não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele e pensarmos humildemente e caritativamente que o porteiro verdadeiramente nos tinha reconhecido e que Deus o fez falar contra nós: ó irmão Leão, escreve que nisso está a perfeita alegria.

E se perseverarmos a bater, e ele sair furioso e como a importunos malandros nos expulsar com vilanias e bofetadas dizendo: 'Fora daqui, ladrõezinhos vis, vão para o hospital, porque aqui ninguém lhes dará comida nem cama'; se suportarmos isso pacientemente e com alegria e de bom coração, ó irmão Leão, escreve que nisso está a perfeita alegria. E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite, batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser: 'Vagabundos importunos, pagar-lhes-ei como merecem': e sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó: se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor; ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão.

Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos, porque de todos os outros dons de Deus não nos podemos gloriar por não serem nossos, mas de Deus, do que diz o Apóstolo: 'Que tens tu que não hajas recebido de Deus? E se dele o recebeste, por que te gloriares como se o tivesses de ti?' Mas na cruz da tribulação de cada aflição nós nos podemos gloriar, porque isso é nosso e assim diz o Apóstolo: "Não me quero gloriar, senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual sejam dadas honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém."

________________Fioretti de São Francisco / Nelson Porto


fonte aqui




Beijos meus cheios de luz, paz, amor, fé e elsperança! 








sábado, 17 de novembro de 2012

...pense nisso!



Foto: ♥♥ღϠ₡ღ♥♥

BOM FIM DE TARDE!

Deixa o encantamento entrar na sua vida,
o amor não é um simples sentimento mas sim uma solução.


BELO TEXTO PARA LER E MEDITAR

Que Deus te abençoe!
Quando alguém te diz: “QUE DEUS TE ABENÇOE”,
não está só desejando o melhor para você, 
mas também atuando a seu favor. 

Pois quando bendizes a alguém, 
... também estás atraindo a proteção de Deus para você.
O efeito de abençoar é multiplicador, 
já que é dado por Deus a seus filhos. 
A benção invoca o apoio permanente de Deus,
para o bem estar da pessoa, fala de agradecimento, 
confere prosperidades e felicidade,
em toda pessoa que a recebe da nossa parte. 
A benção começa com as relações de pais e filhos. 
Os filhos que recebem a benção da parte dos seus pais, 
tem um bom começo espiritual e emocional na vida.
Recebem um firme propósito de amor e aceitação.
Este princípio também se aplica na intima relação de casais..
As amizades se aprofundam e se fortalecem,
trazendo companheirismo, saúde e esperança,
a todos que nunca receberam sequer uma palavra abençoada. 
O poder da vida e da morte está na Palavra.
Ao abençoares não só está outorgando a vida aquele que a recebe, 
mas também aquele que também a dá. 
Por isso, hoje eu peço que Deus te abençoe, 
porque ao bendize-lo de todo coração, estou bendizendo a mim mesmo. 
Distribua bençãos por onde vás, não só palavras, mas, ações.
Elas retornarão a ti quando menos esperares. 
Geralmente a pessoa que vive na presença de Deus,
amando-O e obedecendo-O, tem o privilégio da sua Divina Benção sempre. 
Abraços e que Deus te Abençoe





Beijos meus cheios de luz, paz, amor, fé e esperança!  







sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pense nisso...tristeza sem razão!



Tristeza sem razão


Por vezes, erguemo-nos pela manhã envoltos em nuvens de tristeza. Se alguém nos perguntar a causa, com certeza não saberemos responder.

Naturalmente, atravessamos as nossas dificuldades. Não há quem não as tenha. É o filho que não vai bem na escola, o marido que vive a incerteza do desemprego, um leve transtorno de saúde.

Nada, contudo, que seja motivo para a tristeza profunda que nos atinge.

Nesse dia tudo parece difícil. Saímos de casa e a entrevista marcada não se concretiza. A pessoa que marcou hora conosco cancelou por compromisso de última hora. E lá se vão as nossas esperanças de emprego, outra vez.

O material que vimos anunciado com grande desconto já se esgotou nas prateleiras, antes de nossa chegada. A fila no banco está enorme, o cheque que fomos receber não tinha saldo suficiente.

É... Nada dá certo mesmo! Dizemos que nem deveríamos ter saído de casa, nesse dia. Agora, à tristeza se soma o desalento, o desencanto.

Consideramo-nos a última pessoa sobre a face da Terra. Infelizes, abandonados, sozinhos.

Ninguém que nos ajude.

E, no entanto, Deus vela. Ao nosso lado, seguem os seres invisíveis que nos amam, que se interessam por nós e tudo fazem para o nosso bem-estar.

O que está errado, então? Com certeza, a nossa visão do que nos acontece.

Quando a tristeza nos invade no nascer do dia, provavelmente tivemos encontros espirituais, durante o sono físico, que para isso colaboraram.

Seja porque buscamos companhias não muito agradáveis ou porque não nos preparamos para dormir, com a oração. Seja porque reencontramos amores preciosos e os temos que deixar para retornar à nossa batalha diária, entristecendo-nos sobremaneira.

Ao nos sentirmos assim, busquemos de imediato a luz da prece, que fortalece e ilumina, espancando as sombras do desalento.

Abrir as janelas, observar a natureza, mesmo que o dia seja de chuva e frio. Verifiquemos como as árvores, quando castigadas pelos ventos e pela água, balançam ao seu compasso.

Passada a tempestade, se recompõem e continuam enriquecendo a paisagem com seus galhos, folhas, flores e frutos.

Olhemos para as flores. Mesmo que a chuva as despedace, elas, generosas, deixam suas marcas coloridas pelo chão, ou permitem-se arrastar pela correnteza, criando um rio de cores e perfumes pelo caminho.

Aprendamos com a natureza e afugentemos o desânimo com a certeza de que, depois da tempestade, retornará o tempo bom, o sol, o calor.

Não nos permitamos sintonias inferiores, porque se vibrarmos mal, nos sentiremos mal e, naturalmente, tudo se nos tornará mais difícil.

Nunca estaremos sós. Jesus está no leme das nossas vidas, atento, vigilante, e não nos faltará em nossas necessidades.

* * *

Se estamos tristes, abramos os ouvidos para as melodias da vida, melodias que soam das mais profundas regiões do amor Celeste.

Busquemos ajuda, peçamos socorro, não dando campo a essas energias de modo que possamos, na condição de filhos de Deus, alegrar-nos com tudo quanto o Pai construiu e colocou à nossa disposição a fim de que pudéssemos crescer, amar e servir.

Fonte Momento de Reflexão

Beijos meus cheios de luz, paz, amor, fé e esperança!   



 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A ARTE DE DESFAZER NÓS por Frei Fabiano Aguilar Satler



A ARTE DE DESFAZER NÓS por Frei Fabiano Aguilar Satler

Amor de avó é diferente. Amor de mãe é carinho, ternura e proteção. Mas também é palmada no rabo, dedo em riste e cara séria, correções e castigos merecidos. Com a avó é diferente: resta-lhe apenas o lado brando da maternidade. Perna de avó é lugar de refúgio seguro, zona libertada da humanidade. Quem, diante de estripulias cometidas, não encontrou nas pernas e na barra da saia da avó proteção segura contra a mãe furiosa?

Com as minhas avós não era diferente. Na minha casa, a avó paterna tinha sua cadeira cativa na sala. Era lá que ela, quando nos visitava, passava o dia a fazer crochê. Consumia as horas do dia silenciosa a trançar com a sua agulha e linha aqueles intrincados desenhos geométricos. Eu costumava ficar ali sentado no chão, aos seus pés, feito gente em volta do fogão a lenha em dias de frio: aconchego. De vez em quando, ela levantava-se para ir à casa de banho, ao passo que eu, despreocupadamente, fazia de seus pés o meu pequeno urinol, não sem antes tomar o cuidado de abaixar-lhe as meias.

Em uma das ocasiões em que ela abandonou a sala momentaneamente, as pequenas mãos conseguiram alcançar a linha e o crochê tecido ao longo da tarde. A curiosidade da criança é inevitável: o que acontece se eu puxar essa linha aqui, antes desse monte de nós? E lá se foi todo o trabalho da tarde de minha avó. O leitor e leitora amigos conseguem imaginar o encantamento de uma criança perante o ato de puxar uma linha e fazer com que todo um emaranhado de fios e formas se desfaça graciosamente sem oferecer nenhuma resistência? Que coisa prazerosa para uma criança! E que desespero para a mãe... Ela começa a ralhar, zangada, mal põe os olhos na arte às avessas do filho. Mas a zanga dura somente até a chegada da avó que, com um sorriso compreensivo, dissipa qualquer mau humor. E a criança sorri inocente como quem diz orgulhosa: Olha como é gostoso! Fui eu quem fiz! (ou desfiz…)

Quando somos crianças, sentimo-nos alegres sem muito esforço. Basta uma bacia velha para escorregar barranco abaixo, uma bola velha e meio murcha para chutar, um pé de jabuticaba bem carregado para ser conquistado ou uma pipa para empinar. Coisas de criança. Crescemos e nos sofisticamos. Já não nos basta o calor do peito da mãe e das avós. Buscamos paixões hollywoodianas. Não nos basta a bola de futebol, no Natal: desejamos o carro do ano. Não nos bastam as histórias do Monteiro Lobato: queremos devorar Sartre e Nietzsche. Não nos basta o catecismo abreviado: ansiamos por arroubos místicos e milagres mediáticos.

Crescer é como o trançar de fios na ponta da agulha de crochê de minha avó. O fio retilíneo da nossa vida começa a enrolar-se, ligar-se a outros pontos, encadear-se pacientemente ao longo dos anos. Como o fio que pacientemente entrelaçado forma colcha, toalha ou cortina, a nossa personalidade começa a ganhar forma e contorno. A nossa personalidade torna-se complexa, começa a criar dobras e a fragmentar-se. Multiplicamo-nos. Freud dizia que somos formados por três personagens distintas. Rubem Alves vai mais longe e afirma que, ao longo de nossa maturação, acolhemos em nós, sem muitos critérios, uma verdadeira legião de personalidades: somos muitos, a exemplo do possesso do Evangelho. Talvez ambos tenham razão. O fato é que deixamos de lado a simplicidade de nossa infância e embarcamos primeiro na aborrecência e, em seguida, na indolescência. Haja paciência daqueles que nos cercam… Pouco depois vêm os primeiros passos da idade adulta. Por esta altura, muitos já conseguiram saturar a própria vida com uma quantidade tal de nós que não são capazes de vislumbrar uma possibilidade, mínima sequer, de desembaraçarem-se de todos os problemas que eles mesmos teceram: drogas, gravidezes precoces, violência, delinqüência...

Crescer é inevitável e bom. Amadurecer é melhor. Crescer é acumular nós de mal-entendidos ao longo da vida. Amadurecer é aprender a desfazê-los. E como se não bastassem os nós inevitáveis com que a vida nos brinda a cada dia, muitas pessoas se encarregam de complicar aquilo que não é complicado na nossa existência. Somam nós aos nós. Você já reparou no relacionamento conflituoso e racionalmente inexplicável que muitas pessoas estabelecem, marido e mulher, pais e filhos, namorado e namorada, chefe e subordinados?

Há um momento, porém, um ponto de viragem, em que vislumbramos o fio da meada da nossa vida. Tomamos o fio em mãos, puxamo-lo e vemos um nó desfazer-se. Não é muito, mas já é algo que nos anima e nos descortina novas possibilidades. Sentimo-nos leves, abandonamos cargas e juízos inúteis. Vislumbramos um início de caminho. Principiamos a amadurecer.


Jesus dizia que, para ingressarmos na dinâmica do Reino, precisamos tornar a ser crianças. Pouco paramos para pensar no alcance dessas palavras de Jesus. É claro que ele não nos quer eternamente pueris. Sobre nossa infância o que de melhor podemos dizer é: ainda bem que foi boa! Mas também dizemos: ainda bem que passou! Crescemos e amadurecemos, felizmente. O que Jesus pede para retermos ao longo de nossa vida é a simplicidade dos relacionamentos e dos afetos, como as crianças. Ele nos lembra a necessidade de mantermos a espontaneidade e o brilho do olhar da criança: brilho de vida. O Alberto Caeiro, guardador de rebanhos e morador dos campos, compreendeu a arte de bem viver, viver com simplicidade. Foi ele quem disse:

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Nós como as árvores são árvores,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio onde ir ter quando acabemos…
Nó desfeito após nó desfeito, consumimos os anos de nossa vida. Ao se desfazerem velhos nós, surgem novos. É natural. Mas ao fim, resta-nos um último nó, cuja responsabilidade em desfazê-lo não nos cabe a nós. É o tênue nó do tempo que, de forma inesperada para uns ou serenamente aguardado para outros, rompe-se. Desfeito ele, o tempo desabrocha e se plenifica. Contemplamos a eternidade presente em cada instante de nossa vida. A irmã morte beija amorosamente nossa face, a terra acolhe maternalmente nosso corpo em seu ventre e mergulhamos, enfim, na plenitude da vida Trinitária.


E aí, companheiro? Já agarrou o fio da meada da sua vida?


Beijos meus cheios de, luz, paz, amor, fé e esperança no Cristo ressuscitado!


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A complicada arte de ver - Rubem alves


imagem aqui

Uma mente aberta é a arte de ver além da sua imaginação  "Kiki Reina"


Bom para refletir o texto abaixo. É pessoas, ando refletindo muito nos últimos dias...



A complicada arte de ver
Rubem Alves

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria!
Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…
Rubem Alves – Educador e escritor.
Texto originalmente publicado no caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S. Paulo”, em 26/10/2004.

 beijos meus, cheios de
luz, paz, amor, fé e esperança!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Reflexão ::.. O Pastor Canta




O Pastor Canta

A voz, doce e quente, do Pastor, conclamava:


“Vinde os cansados sob fardos,
exauridos pelos desenganos,
sofridos nas circunstâncias existenciais,
desanimados em razão da perda da esperança!”
“Ateai o fogo da alegria no feno da tristeza,
no combustível em reserva,
que restou das aspirações nobres,
nas reminiscências das ofensas,
nas cercas das dificuldades!”
“Erguei barreiras ao vício,
impedimentos ao erro,
dificuldades ao mal,
utilizando a virtude do amor,
o exercício da dignidade,
a insistência no bem.”
“A tempestade que ameaça e arrasa,
também modifica a paisagem,
rarefaz a atmosfera, reverdece a terra…”
“E passados os momentos rudes,
a brisa mansa oscula as ramagens quebradas,
o solo encharcado, a terra ferida em sulcos profundos,
anunciando as flores que virão,
a gramínea que se recomporá,
o pomar que se repletará de frutos.
“Ouvi, diz Ele, os cardos também se abrem em flor,
os cadáveres fertilizam o chão,
o charco se transforma em regato,
sob as dadivosas mercês do Pai.”
“Estrelai, com a esperança da fé,
as vossas noites de solidão
e cantai o amor aos ouvidos desamados.”
“A vossa música, se nascer do coração,
permanecerá  para sempre na acústica
das almas que vos escutarem.”
“O cansaço, o desengano, a exaustão
e o abatimento cederão lugar às manifestações
da felicidade em forma de saúde, alegria e paz.”
Assim falou o Pastor.
Desde então os fracos tornam-se fortes,
os tristes fazem-se alegres,
os pobres adquirem fortunas,
os enfermos restauram a saúde…
Uma canção, suave e morna, aquece o mundo,
os homens, os animais e a vida
não silenciando jamais.

Divaldo Pereira Franco
do Livro No Longe do Jardim











beijos meus, cheios de
luz, paz, amor, fé e esperança!





domingo, 22 de janeiro de 2012

"Projetos inacabados"


Projetos inacabados



Faz parte da natureza humana sonhar e idealizar as mais variadas realizações.
Um hábito muito comum é a lista que se faz no início de cada ano, as famosas “proposições de ano novo”.
Costuma-se relacionar hábitos nocivos a serem abandonados, cursos a serem iniciados e virtudes a serem adquiridas...
Propostas razoáveis e, na maioria das vezes, necessárias ao desenvolvimento daquele ser que as relacionou.
No entanto, comumente, antes mesmo da primeira semana do ano acabar, a lista é abandonada em alguma gaveta, juntamente com a disposição sincera de mudança que a havia inspirado.
E lá se vão para o esquecimento, mais uma vez, as mudanças prometidas para si mesmo.
Quem se espera enganar?
Afinal, a proposição de reforma íntima atinge primeiramente ao próprio interessado.
Propostas como essas abandonadas lembram projetos que se iniciam e não se realizam.
São barcos que jamais alcançam o mar.
Textos sem ponto final.
Obras que não saem da prancheta de desenho.
Músicas jamais executadas.
Flores que não desabrocharam.
Filhos que não nasceram.
Amores inconfessados.
Desenhos que nunca tocaram um papel.
Promessas não cumpridas.
Sonhos abandonados.
Os dias passam rápidos.
As folhas brotam, crescem e mais adiante caem das árvores, enquanto as pessoas passam seus dias adiando partidas, retardando começos e cancelando mudanças.
E o que poderia acontecer de modo voluntário, acaba se tornando obrigatório.
A vida, um dia, há de nos cobrar pelas realizações que nos caberiam e que não levamos a termo.
Que realizações serão essas?
Grandes feitos?
Conquistas retumbantes?
Não.
Por certo, as mais significativas missões que nos foram confiadas têm o objetivo de domar nossas próprias imperfeições.
“Ah! Mas é tão difícil vencer hábitos antigos!” – poderíamos argumentar.
No entanto, mais difícil ainda será conviver para sempre com costumes infelizes que amargam a nossa existência e a daqueles que nos cercam.
Projetos inacabados, por certo, temos vários.
Qual deles retomar e concluir de uma vez por todas?
Cada um de nós deverá saber qual é o mais urgente e mais viável, por ora.
Trata-se de uma decisão intransferível e inadiável.
É chegada a hora de realizar e de transformar.
É hora de abandonar as desculpas que nos serviram de muletas por tantos séculos, retardando-nos, no mesmo compasso de atraso e de teimosia vã.

Pense nisso!
Que o dia de hoje seja uma marca significativa na linha do tempo de nossas existências.
Pouco importa que dia da semana seja.
Não interessa em que mês do ano estejamos.
Não há porque esperar por outra oportunidade.
Chances são como brisas que surgem rapidamente e se vão de igual forma.
Não há motivo real e justo para permanecer estacionados enquanto a vida nos chama a realizar o bem.
Coragem e disposição hão de ser a inspiração que nos faltava.
Não amanhã, mas sim, hoje.
Não depois, mas sim, a partir de agora.
Pense nisso.




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